The Africa We Want

A África que queremos

Artigo de Natália Lima e Yasmein Abdelghany

As aspirações dos africanos são conhecidas e já registadas, o objetivo atual é executar o que já se traduziu em agendas. Se estamos empenhados em honrar a Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos, não podemos esquecer a história de opressão sobre os povos indígenas da África e devemos defender a autodeterminação e o respeito aos autóctones e seus descendentes, dispersos pelo mundo devido ao tráfico de escravos africanos e ao legado remanescente do colonialismo que divide o continente em “África Branca e Negra”.

The Africa We Want

Do nacionalismo ao pan-africanismo!

Ao falar sobre identidades, muitos povos africanos optam por abraçar mais o nacionalismo do que o Pan-Africanismo. Pessoas da região do Norte da África, por exemplo, historicamente focaram mais no Arabismo e nacionalismo do que no Pan-Africanismo - eles ainda hesitam em abraçar suas raízes africanas e rejeitar uma identidade africana em favor do orgulho árabe. Acolher o Pan-Africanismo e a identidade comum não significa abrir mão do nacionalismo ou do orgulho árabe, pois essas formas de orgulho podem conviver de maneira igual e harmoniosa.

A África visionada pelos jovens

As gerações anteriores deram sua contribuição nos Movimentos de Libertação para abrir caminho e merecer gratidão e reconhecimento. A juventude herda esse legado e os aspectos positivos e negativos dele. Existe a ideia de que o jovem é o responsável por reverter os resultados negativos do que já foi feito e os diálogos intergeracionais devem ir além disso, responsabilizando a todos pelo sucesso ou fracasso promovido.

A África tem, por muito tempo, falhado institucionalmente com seus cidadãos. O poder tem sido sinônimo de opressão dentro e fora do continente, em todas as fronteiras compartilhadas dos países vizinhos. Promover mudanças ou denunciar crimes contra a humanidade têm sido o suficiente para acabar com a vida de pessoas em nome dos interesses das grandes potências. A retórica sobre a paz é uma agenda de vulnerabilidade considerando que os africanos mal conseguem se defender, defender seus territórios e seus interesses - mas as potências ocidentais e orientais estão armadas até os dentes.

O desafio que a África enfrenta agora é transformar páginas e páginas de declarações, resultados de cúpulas, agendas, objetivos de desenvolvimento sustentável e tantos documentos diferentes, em realidade. É aqui que começam os desafios: ainda enfrentamos uma falta de vontade política dentro de cada Estado africano no que diz respeito às reivindicações do povo.

Os jovens têm agora um continente conturbado e têm a responsabilidade e a pressão sobre eles para reverter meio século (ou até mais) de injustiça e corrupção e este cenário não pode ser mudado da noite para o dia.

No entanto, não o faremos sozinhos. Não são necessários mais documentos. A África que queremos precisa, em primeiro lugar, de africanos melhores.

The Africa We Want

"A África que queremos é a África que vai além das fronteiras, cujos países estão empenhados em continuar realizando ações coletivas para abrir conexões entre si e promover a união."

Construir pontes entre os povos da África e o desenvolvimento econômico e social é, sobretudo, o papel dos líderes dos governos africanos, e isso começa por abordar os vizinhos e remover quaisquer laços amargos entre os países africanos. Eles também devem facilitar a comunicação entre os jovens africanos através da criação de plataformas, fóruns, bolsas e programas que reúnam os jovens de África e sua diáspora para encorajar uma cultura de resiliência, autonomia, solidariedade e compartilhamento.

Do Fórum da Juventude Africana ao Programa de Liderança Presidencial Africana no Egito, à Cúpula da Juventude ConneKt África em Gana à Bienal Luanda em Angola - a África precisa de plataformas que reúnam a juventude africana e estimulem a remoção dos obstáculos à sua participação e mobilização efetiva os recursos necessários e o desenvolvimento de planos de ação continentais de longo prazo.

A África que queremos é a África que vai além das fronteiras, cujos países estão empenhados em continuar realizando ações coletivas para abrir conexões entre si e promover a união.

 

Sobre os autores

Natália Lima é afrodescendente de nacionalidade brasileira, que estuda Agricultura na Universidade Federal de Minas Gerais. A sua decisão de entrara para este programa foi fortemente influenciada pela vontade de contribuir para a construção de um sistema alimentar sólido que promova a segurança alimentar e nutricional em África. Ela já trabalhou em iniciativas sociais de promoção da cultura africana e afro-brasileira para crianças e jovens em regiões vulneráveis ​​na cidade de São Paulo, Brasil, como membro do coletivo Espelho, Espelho Meu e com a promoção da língua Kiswahili para afro-brasileiros. Ela também é a fundadora do Projeto Swa.zilian, um coletivo pan-africano formado por três afro-brasileiros e um tanzaniano. Com este projeto, ela está enfrentando os desafios de liderar uma iniciativa em que os membros simultaneamente aprendem e promovem o pan-africanismo e a língua Kiswahili como a língua franca da África para assuntos regionais nas 6 regiões da África, e cuja proposta também é promover a inclusão e o acesso de africanos lusófonos ao material de aprendizagem de Kiswahili sem a necessidade de aprender uma língua colonial adicional.

Yasmein Abdelghany é uma jovem líder egípcia na área da Paz, Educação e Desenvolvimento Sustentável. Ela trabalha com muitas organizações regionais e internacionais para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Ela foi escolhida pelo Ministério de Relações Exteriores da Dinamarca e pela Copenhagen Business School como uma notável jovem pesquisadora egípcia com histórico comprovado em sustentabilidade. Ela é palestrante no Dia Internacional da Juventude das Nações Unidas, autora na Conferência Internacional da Juventude das Nações Unidas, bem como organizadora e criadora de conteúdo no Fórum Mundial da Juventude. Seu objetivo é ajudar os jovens em todo o mundo a ter acesso a uma melhor educação e a um futuro melhor.

Intergenerational Dialogue

Mais informações

Natália Lima e Yasmein Abdelghany são participantes do Diálogo Intergeracional da Bienal de Luanda 2021.

Toda a informação sobre os participantes.