Desde a sua criação em 2004, a ICCAR cresceu e tornou-se uma frente global ativa de mais de 700 cidades que combatem o racismo e a discriminação por meio de políticas públicas e programas definidas em seu Plano de Ação de Dez Pontos. A ICCAR tornou-se uma referência como plataforma exclusiva de âmbito municipal no Sistema das Nações Unidas e na comunidade internacional.
Devido à sua proximidade com os cidadãos, as cidades estão na linha da frente para enfrentar os desafios, inclusive o combate à discriminação. Como decisores políticos e prestadores de serviços em áreas como a saúde, a educação, o emprego e a habitação, a vasta gama de serviços sociais que as cidades prestam tem sido fundamental na promoção do desenvolvimento urbano inclusivo, livre de todas as formas de discriminação. As redes de cidades permitem que os governos locais facilitem a aprendizagem mútua, identifiquem boas práticas e reforcem parcerias.
Como parte das suas atividades emblemáticas, a ICCAR conduziu treinamentos, os ICCAR Youth Boot Camps, para jovens que procuram explorar ideias para envolver outros jovens em uma abordagem global que incentive a ligação entre entidades e comunidades locais para resolver desafios mundiais. Os jovens líderes que foram selecionados por cidades, universidades e ONGs de várias partes do mundo foram reunidos e imersos em uma dinâmica de aprendizagem e compartilhamento de ideias para desenvolver estratégias de combate ao racismo e às discriminações, cada um com as suas próprias perspectivas diversas trazidas de seus países e suas comunidades.
Este ano, a primeira edição europeia do ICCAR Youth Boot Camp ocorreu em Chisinau, Moldávia (em agosto de 2024), seguida pela terceira edição mundial do ICCAR Youth Boot Camp na cidade de Cagliari, Sardenha, Itália (em setembro de 2024). Os jovens participantes vieram de todo o mundo: Bielorrússia, Brasil, Egito, França, Alemanha, Itália, Jordânia, Quênia, Moldávia, Mongólia, Coreia do Sul, Romênia, África do Sul, Turquia, Uganda, Ucrânia, Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte e Uruguai.
Assistimos a um ressurgimento alarmante do racismo e da discriminação, e os números provam isso. Tenho certeza de que você e eu não podemos ficar parados. Não podemos ficar em silêncio. Precisamos nos manifestar e encontrar formas de combater essa onda, que também é amplificada pelas redes sociais. A boa notícia é que não estamos sozinhos, pois há muitos defensores convencidos de que isso precisa mudar, e estamos fazendo isso. A UNESCO tem liderado esta luta e estamos orgulhosos de muitos dos nossos países que legislam sobre a igualdade e punem o racismo e a discriminação. Muitas empresas, a sociedade civil e os acadêmicos estão unindo forças.
Com agendas que giram em torno de uma série de workshops, palestras e atividades lideradas por acadêmicos, autoridades eleitas, ativistas e representantes de redes antirracistas, os Boot Camps são experiências imersivas de sete dias que permitem aos participantes debater de maneira coletiva sobre seus papéis como jovens líderes em suas comunidades e criar soluções criativas e inovadoras para combater todas as formas de discriminação.
Os participantes se encontraram com autoridades eleitas, prefeitos e vice-prefeitos, que compartilharam seus desafios, suas boas práticas e suas recomendações sobre como fazer uma mudança de âmbito local. Eles também aprenderam sobre o poder de networking e como desenvolver parcerias impactantes. Na Moldávia, os jovens participaram de sessões sobre gastrodiplomacia e biodiversidade, sobre o estado dos direitos humanos na Europa, sobre como as cidades na Moldávia adaptaram suas atividades para receber refugiados que fugiram da Ucrânia, incluindo refugiados com deficiências. Na Itália, os participantes foram apresentados ao trabalho do Escritório Italiano contra a Discriminação Racial (UNAR), bem como a novos métodos de planejamento e ecossistemas urbanos graças a tecnologias inteligentes, dados e inovação.
O racismo e a discriminação não são um problema “meu”, mas um problema “nosso”. Não é uma questão africana ou europeia, mas uma confusão global. Os jovens são os mentores da mudança.
Foi incrível conhecer pessoas de diferentes países do mundo, conversar com elas e descobrir mais sobre os projetos em que estão envolvidas, além de poder entender que muitas vezes acreditamos que os problemas que vivenciamos em nossas cidades são bem diferentes, mas na verdade há muitas semelhanças entre eles.
Uma oportunidade incrível de conhecer pessoas do mundo inteiro que querem fazer do mundo um lugar melhor e trocar ideias em um ambiente paradisíaco.
Embora os Boot Camps inicialmente enfatizassem o treinamento e o desenvolvimento de habilidades, eles também apresentavam atividades lúdicas projetadas para promover vínculos e intercâmbio cultural, com o objetivo de construir uma família ICCAR global de agentes de mudança locais.
Em Chisinau, a ICCAR, junto com o Sunshine Project, reuniu crianças moldavas neurotípicas e com síndrome de Down, bem como participantes do Boot Camp para exercícios e jogos amigáveis, abraçando o poder do esporte para inclusão, diálogo, solidariedade e respeito mútuo.
Crianças com síndrome de Down nos ensinaram que a felicidade é feita de coisas simples, e que aprender uns com os outros é apenas o começo.
No final dos Boot Camps, os participantes elaboraram planos de ação ambiciosos para combater a discriminação: o que deve ser feito, como encontrar apoio e como isso é acionável? Em Cagliari, os jovens elaboraram projetos que abrangem o poder da narrativa para o diálogo intercultural, com base na metodologia UNESCO Story Circles, realizaram documentários sobre refugiados ou desenvolveram workshops sobre estereótipos e religião em escolas para lutar contra preconceitos prejudiciais e bullying. Esses projetos agora serão implementados em suas comunidades locais, marcando o início de sua jornada como líderes antidiscriminação treinados pela UNESCO.
Minha experiência foi inspiradora. O Boot Camp me motivou a abraçar novas ideias e a trabalhar ainda mais pela discriminação zero.
Os Boot Camps de Joven para Cidades Inclusivas e Sustentáveis (ICCAR Youth Boot Camps for Inclusive and Sustainable Cities) foram idealizados em 2022 por Benedetto Zacchiroli durante seu mandato como presidente da ICCAR, e desenvolvidos em colaboração com o Setor de Ciências Humanas e Sociais (SHS) da UNESCO, liderado por Gabriela Ramos, o Comitê Diretor Global da ICCAR e com parceiros importantes como a UNAR, a Fundação Guerrand-Hermès, Verbe et Lumière e o Future Food Institute. Inspirado pela Master Class Series da UNESCO contra o Racismo e as Discriminações, lançada em 2019, a série de Boot Camps exemplifica a missão da UNESCO de promover a solidariedade global, promovendo o diálogo intercultural e a inclusão.
A ICCAR também trabalha com as Cátedras UNESCO na promoção da inclusão urbana. Por 20 anos, a Cátedra UNESCO em Paisagem Urbana tem liderado o programa de pesquisa e projeto chamado “Workshop Atelier Terrain UNESCO” e atualmente se chama “UNESCO Studio,” que reúne especialistas científicos internacionais, praticantes e estudantes para abordar questões urgentes de desenvolvimento urbano sustentável. Juntos, eles trabalham com autoridades locais e partes interessadas para identificar as necessidades da população e as principais questões em jogo relacionadas à infraestrutura, desenvolvimento econômico e sistemas ecológicos.
A 14ª edição do UNESCO Studio, “Projetar um Habitat Inclusivo e Sustentável em Phnom Penh” foi realizada em maio de 2024 em Phnom Penh, Camboja, na junção dos rios Mekong e Tonle Sap. Os resultados deste workshop estão agora em exibição na exposição “Phnom Penh Against the Current”, que acontece na Universidade de Montreal (Canadá). Para promover os direitos humanos e a biodiversidade ao longo das margens do rio continental, o workshop se concentrou no empoderamento ecológico e cultural das comunidades locais que vivem à beira do rio Mekong. Ao longo de duas semanas, 50 participantes do Camboja, do Canadá e da Tailândia idealizaram uma série de projetos que forneceram caminhos tangíveis e criativos para o desenvolvimento inclusivo e sustentável de Phnom Penh. Os projetos do UNESCO Studio, portanto, propuseram um novo diálogo urbano entre a vibrante vida urbana da cidade e a rica rede hidrográfica.

Por meio deste workshop, os participantes aprenderam e compartilharam conhecimento tradicional e moderno sobre arquitetura e planejamento urbano Khmer, moradia contemporânea e desafios ecológicos da cidade, história e instituições cambojanas, e a rica diversidade cultural e herança arqueológica do país. Reuniões com membros do governo cambojano, autoridades municipais, líderes comunitários e membros da família de Vann Molyvann ofereceram perspectivas adicionais sobre questões enfrentadas pelo povo cambojano e as aspirações que unem o país após a pandemia global da COVID-19.

As instituições organizadoras do UNESCO Studio em Phnom Penh incluíram a Cátedra UNESCO em Paisagem Urbana da Universidade de Montreal, a Royal University of Fine Arts, a Royal University of Law and Economics, a Royal University of Phnom Penh, a Norton University, a Hanoi Architectural University e a King Mongtkut University of Technology Thonbury. Em parceria com a UNESCO, os organizadores também trabalharam com a população e as autoridades locais, além de ONGs e organizações internacionais, para definir as melhores soluções para promover a inclusão e a sustentabilidade em Phnom Penh.

A celebração do 20º aniversário da ICCAR continuará durante a 4ª edição do Fórum Global contra o Racismo e a Discriminação, que será realizado em Barcelona, Espanha, de 9 a 11 de dezembro de 2024. Esta edição terá como objetivo lançar a “Aliança Global contra o Racismo e a Discriminação”, projetada para promover esforços colaborativos para ações impactantes e duradouras. O Fórum abordará questões relevantes, incluindo a formulação de políticas inclusivas, a cooperação entre múltiplas partes interessadas, os desafios e as oportunidades em tecnologias emergentes, bem como a necessidade de priorizar vozes marginalizadas nesta luta mundial, incluindo o papel fundamental das cidades.
Este artigo foi escrito com as contribuições de Juliette Solesse, Prof. Shin Koseki, Ouko Willis Romeo, Mariana Abuhab Bialski, Erwan Nzimenya e Lena Husham, Rhebeca Luiza, Sol Casada e Adriana Potinga. Mais informações e fotos podem ser encontradas na .
As ideias e as opiniões expressas neste artigo são dos autores e não representam necessariamente as visões da UNESCO. As designações empregadas e a apresentação do material ao longo do artigo não implicam a expressão de qualquer opinião por parte da UNESCO sobre o status jurídico de qualquer país, cidade, área nem de suas autoridades, nem sobre suas fronteiras ou limites.