Webinar COVID-19: um novo mundo para professores, trabalhadores da linha de frente da educação

De um dia para o outro, professores de todo o mundo se viram administrando salas de aula virtuais, comunicando-se com seus estudantes por plataformas de mídias sociais e aprendendo na prática a fornecer educação a distância para mais de 1,5 bilhão de estudantes afetados pelo fechamento de escolas devido à pandemia da COVID-19.
Em 27 de março, a UNESCO dedicou seu segundo webinar de resposta da educação à COVID-19 àqueles que estão na linha de frente para garantir a continuidade da aprendizagem: cerca de 63 milhões de professores afetados em 165 países, juntamente com outros profissionais da educação. Reunindo participantes de todas as regiões, o seminário virtual esclareceu uma ampla gama de questões, desde a oferta de treinamento e apoio aos professores até o desafio do ensino a distância em áreas remotas ou rurais com pouca ou nenhuma conectividade à internet.
Ao presidir o seminário online com 159 participantes de 33 países, Yumiko Yokozeki, diretora do Instituto de Capacitação da UNESCO na África, enquadrou esse contexto inteiramente novo sob uma luz positiva, ao mesmo tempo em que ressaltou a importância de os governos apoiarem seus professores. “Como a necessidade é a mãe da invenção, esta situação pode ser uma oportunidade para que professores e estudantes se tornem mais empoderados, criativos e inovadores”, disse ela.
Os participantes relataram como o súbito fechamento das escolas os pegou de surpresa. Em Uganda, em um dia, os professores preparam pacotes para os estudantes levarem para casa. Nos Países Baixos, todo o currículo se tornou digital em 48 horas. Nas Filipinas, o Departamento de Educação lançou sua plataforma DepEd Commons antes da data planejada.
Oferecimento de educação de qualidade apesar dos muitos desafios
“Um dos maiores desafios que estamos enfrentando é como manter as crianças envolvidas”, disse Anne-Fleur Lurvink, que leciona em uma escola em Roterdã (Países Baixos), onde os estudantes têm origens muito diversas. “Ao ensinarmos crianças em desvantagem, corremos o risco de deixar de lado muitas delas. As situações domésticas nem sempre permitem que elas participem das aulas”, disse ela. O governo adotou medidas para fornecer laptops e wi-fi para famílias sem acesso digital, e os professores de sua escola ligam semanalmente para os pais, para manter contato.
A experiência fez uma curva acentuada na aprendizagem: “Com a educação digital, nós realizamos algo que levaria anos”, disse Anne-Fleur. “Os professores estão apoiando muito uns aos outros e criando redes robustas; da mesma forma, as sociedades estão se empenhando para apoiar os professores”, disse ela, ao enfatizar que nada substitui o que as escolas proporcionam além da transmissão de informações, da segurança ao bem-estar emocional.
Os governos estão intensificando os esforços para fornecer treinamento e recursos para apoiar os professores na adaptação a esse novo ambiente de aprendizagem.
Na França, a (literalmente, Rede de Cobertura), a operadora nacional de educação, fornece conteúdo gratuito para professores, pais e estudantes, como filmes animados, aplicativos e ferramentas fáceis de se usar, além de tutoriais e outros recursos para apoiar os professores”, relatou Marie-Caroline Missir, diretora administrativa da Canopé. Miguel Cruzado Silverii, diretor-geral de desenvolvimento de professores do Ministério da Educação do Peru, indicou que o governo lançou três cursos online massivos abertos (MOOCs) para treinar professores a mudar para o ensino online.
Os professores estão prontos para mudar para o ensino online?
A adaptar e a criação de materiais didáticos para o formato digital em curto prazo têm sido desafios, pois poucos professores têm fortes habilidades digitais e de tecnologia da informação e comunicação (TIC). Em muitos países do sudoeste da Ásia e da África Subsaariana, apenas cerca de 20% ou menos das famílias possuem conectividade com a internet em casa, tampouco possuem computadores pessoais.
No Peru, Cruzado Silverii informou que apenas “35% dos professores têm acesso a computadores e conectividade com a internet”. Por essa razão, o ministério optou por usar soluções de baixa tecnologia, como canais de televisão e rádio, para fornecer aulas e conteúdos aos estudantes, bem como plataformas online, como a .
Na República de Camarões, o dr. Michael Nkwenty Ndonfack, inspetor pedagógico em Ciência da Computação e TIC no Ministério de Educação Básica, declarou que apenas 20% a 25% dos professores têm acesso à internet e que a maioria deles não possui habilidades em TIC. Foi criada uma força-tarefa do governo nacional para estabelecer a Rotina de Aprendizagem de Proteção, para permitir que professores e estudantes acessem a educação por meio de plataformas com as quais já estão familiarizados, como rádio e TV.
Em Uganda, o governo está contando com o programa , que está estabelecendo um robusto sistema de treinamento de professores em todo o país. A instituições de ensino de formação docente foram designadas a oferecer oficinas de capacitação para professores sem habilidades em TIC por meio de um dos três hubs de TIC do programa.
O bem-estar dos professores é fundamental
Em momentos incertos e sem precedentes como este, é normal que as pessoas, incluindo os professores, tenham níveis maiores de estresse e ansiedade. Os professores precisam de apoio socioemocional para enfrentar a pressão extra exercida sobre eles para oferecer ensino e aprendizagem em tempos de crise, além de apoiar as necessidades emocionais de seus estudantes. Nas Filipinas, Jennifer Lopez, do Departamento de Educação, informou que os salários de março e abril estavam sendo liberados mais cedo e que todas as análises de desempenho dos professores foram suspensas durante o estado de emergência. O corpo docente e o pessoal da educação que ainda estão nas escolas receberão um adicional de periculosidade e um subsídio de vestuário.
Em Uganda, a dra. Jane Egau Okou, comissária para Educação e Treinamento de Formadores de Professores, informou que o ministério garantiu o pagamento pontual de salários, para que os professores possam estocar itens essenciais e se concentrar em sua missão sem preocupações adicionais.
Proteger, apoiar e reconhecer os professores
Em suas considerações finais, a Gerd-Hanne Fosen, o copresidente da Força-Tarefa Internacional de Professores para a Educação 2030 (), enfatizou a necessidade de as políticas permanecerem concentradas nos mais marginalizados, aqueles que não têm acesso à tecnologia ou que não têm um ambiente doméstico favorável. A Força-Tarefa de Professores lançou um “Apelo à ação” destinado a todos os governos, provedores de educação e patrocinadores – públicos e privados – para proteger os professores neste momento difícil e reconhecer os papéis fundamentais que eles desempenham na resposta e na recuperação da pandemia COVID-19. Todos os participantes foram encorajados a apoiar os seis pontos de ação destacados no apelo: .
A UNESCO também lançou a Coalizão Global de Educação, para facilitar as oportunidades de aprendizagem inclusiva para crianças e jovens durante este período de interrupção educacional súbita e sem precedentes.