Artigo
UNESCO reúne especialistas para discutir caminhos para a construção de uma cultura de paz mundial, tolerância e inclusão

Encontro virtual fez parte do Fórum Internacional de Nanjing pela Paz (China). Sessões regionais serão realizadas em diferentes países
A UNESCO no Brasil, em parceria com o Escritório da UNESCO em Pequim, China, organizou ontem (22) um debate sobre os desafios e oportunidades para uma cultura de paz pós COVID-19. O objetivo foi o de promover e discutir ideias sobre temas como tolerância, solidariedade, justiça social e respeito à diversidade, e sua importância para o desenvolvimento de sociedades mais inclusivas e pacificas.
O encontro fez parte do Fórum Internacional de Nanjing pela Paz 2020, que ocorre de forma híbrida devido à pandemia. Sessões centrais serão realizadas na cidade chinesa, e contarão com a presença de convidados locais. Sessões regionais serão coordenadas online em vários locais ao redor do mundo.
A Diretora e Representante da UNESCO no Brasil, Marlova Jovchelovitch Noleto, foi a mediadora do debate. Ela destacou o comprometimento das Nações Unidas em não deixar ninguém para trás e a urgência da cooperação internacional no momento em que o mundo atravessa uma das piores crises da história. “Os mais jovens têm um papel importante para a cultura de paz, porque podem contribuir positivamente para processos de mudanças sociais que transformam comportamentos, relacionamentos e atitudes participativas e inclusivas. Mais do que discutir a cultura de paz, a UNESCO acredita na importância de traduzir esse conhecimento para a prática, algo que deve ser uma realidade nas políticas públicas, nos sistemas de justiça e nas ONGs”, afirmou.
O fórum também foi um momento de resgate dos princípios do “Manifesto 2000: por uma cultura de paz e não violência”, lançado pela UNESCO nos anos 2000. Ele foi fruto de um trabalho de laureados do Prêmio Nobel da Paz, entre eles: Mikhail Gorbatchov, Rigoberta Menchú, Shimon Peres, Desmond Tutu, Nelson Mandela e Dalai Lama.
O encontro virtual contou com vários especialistas no tema. Confira abaixo.
Carlos Mussi, diretor da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) no Brasil
“A América Latina e o Caribe têm uma cultura do privilégio que está muito mais enraizada na sociedade do que a cultura da paz. Dizemos que somos muito pacíficos, mas somos uma das regiões mais violentas do mundo. A região está passando por um momento muito tenso, e devemos aproveitar a oportunidade para promover a cultura de paz. Devemos reavivar isso dentro de nós e na região”.
Lia Diskin, co-fundadora da Associação Palas Athena
“Diferentes formas de violência, como a estrutural e a cultural, e outras formas simbólicas de violência, devem ser entendidas e refutadas usando princípios de cultura e paz. Precisamos um do outro porque coexistimos coletivamente, e a cultura de paz está fundamentalmente ancorada na coexistência”.
Leoberto Brancher, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul
“Para desconstruir a violência, é necessário mudar nosso sistema de justiça, e a justiça restaurativa é um dos caminhos. Seu objetivo é substituir a culpa, a acusação, a punição e toda uma dinâmica que envolve medo e hostilidade, por uma outra dinâmica que permite o desarmamento, a responsabilidade, a reparação de danos, e o diálogo em nossa fábrica social”.
Roger Koeppl, diretor presidente da YouGreen Cooperativa
“Nunca antes na história postos de trabalho como o de entregadores, enfermeiras, profissionais de limpeza, por exemplo, tiveram tanto reconhecimento. Um dos efeitos da pandemia da COVID-19 será o reconhecimento de pessoas em todas as áreas de trabalho. Se conseguirmos levar esse reconhecimento não somente nas redes sociais, mas também financeiramente, poderemos corrigir diversos outros problemas”.
Eliane Jocelaine, secretária municipal de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos de Campinas (SP).
“A pandemia nos traz um senso de reflexão comum, sobre onde chegamos e para onde queremos ir. As desigualdades sociais e violações dos direitos humanos estão escancarados, e a pandemia registra que não é mais possível passar ao largo delas. Precisamos nos comprometer individualmente e coletivamente para transformar essa realidade. Não há paz sem respeito, não há paz sem tolerância. É preciso a garantia de direitos para toda a população”.